terça-feira, 23 de março de 2010

Le vin à bonne température

Durmo com a janela aberta, a dois passos da cama. Gosto de sentir o sereno da madrugada a entrar silenciosamente, don juanescamente, em meu quarto, enquanto eu sonho.

Porque assim, lá pelas duas eu estou sob o chuveiro, shampooing, como é de praxe. E ali eu me demoro o suficiente pra sair mole, quase cambaleante, direto para os braços de Morpheu (o meu é com ph porque o assunto está relacionado a pele e então...well).

E o que acontece? Chegando à cama deito-me, espalho-me sobre ela seria o mais certo, o corpo ainda fumegando do interminável banho, mas -ah- cabelos perfumados são um must. E então tem esse calor todo para ser dissipado. Nem me cobrir posso. O que faço? Entrego-me a Morpheu usando apenas uma tee completamente puída. Enorme, larga, completamente puída camiseta, à qual eu desavergonhadamente acrescentei requintes de raggy look, tais como passar a tesoura em todas as ribanas para assim me fazer free demais, no strings attached at all. Um nada sobre a pele, é isso o que eu quero, uma camisa que se desmanche a um sopro.

Abandono pela cama a parte de baixo do pijama, e a parte de cima, e um par de meias fofas sem cano, que lembram sapatinhos de bebê. Jogo tudo por lá, sem ver direito onde, mas sei que vou precisar de cada item logo mais. E a janela aberta a dois passos da cama.

Lá pelas tantas o insidioso frio curitibano mete pela janela aberta sua longa e gelada língua, que começa devagarinho a me lamber a pele quente. Ui! Gentle goosebumps all over my skin, under which I have got you.

E aquele chill vai percorrendo a topografia, brincando comigo, tentando me despertar, vamos lá, sua preguiçosa, ele me sussurra ao ouvido com seu hálito fresco, vou continuar te arrepiando, diz ele.

Sorrindo eu começo então a passar a mãos por toda a superfície ao redor de mim, tateando molemente atrás das calças do meu jammie, depois a parte de cima dele, que vou vestindo sem abrir os olhos, num ritual desapressado, e por último os sapatinhos de bebê que eu calço de qualquer jeito, só pra mostrar ao frio que eu não tenho medo de sua língua gelada. Venha agora, digo a ele. E ele vem mesmo. E eu gosto.

Espalhada na cama, um braço esticado e outro sob o travesseiro, uma perna esticada e outra fletida, me imagino a representação egípcia de uma bailarina voltando de um grand jetté. E ali sonho, apenas sonho, que minha figura é encantadora e que minhas pobres pernocas são as maravilhosas pernas de Cyd Charisse, a rainha, que me desculpe a linda Ana Rickmann. Vou confessar que sempre me fingi de linda, fingi muito. Como alguém me disse outro dia, com a voz mais sensualmente arrastada desse mundo: you're a pretender. Yes, I am, sir. Shame on me.

E a janela aberta a dois passos da cama. Agora já posso puxar as cobertas, devo, se quiser reguardar o que restou da fumegância, uma tênue camada envolvendo-me o corpo feito um anel de Saturno. Com o passar do tempo, enquanto o inaudível tic-tac do relógio eletrônico bate em compasso com o meu coração, o frio de Kooreetcheebah me possui inteira, tão bom, eu deixo.

Sou, conforme disse a alguém horas atrás, uma criatura outonal, crepuscular, meio dracúlea, meio lunar. Não sou dada ao calor dos trópicos e seus suores incômodos. Prefiro o adocicado suor despertado antes pelo prazer do que pelo sofrimento físico.

Gosto de pensar em meu corpo como um blanc des blancs, à boire frais. Ou, no encantador idioma de Shakespeare, serve cool. Ou quando muito um delicado rouge léger, à boire chambré. Chambré é bom.

Ah, mas eu sou é muito enjoadinha com essas minhas trips, não sou? Admito, admito. Não sei como vocês tem paciência (eu ia dizer outra coisa, mas não seria elegante) para me ler...

11 comentários:

  1. Alec, please hon, olha lá o que vai dizer. Curb your enthusiasm haha

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  2. Muito erótica-sensual tua "night trip".
    Vai causar furor aí no fãclube.
    Bj

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  3. Wow! Ham-ham! What can I say?
    Love is a many splendored thing?
    Kisses from my high and windy hill?
    Keep your window opened every night?
    For God's shakespeare?

    Alec (saying Jesus Christ, San, you drive me nuts, hon)

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  4. Doc,
    imagine, a gente só faz pilhérias por aqui hahah

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  5. Uauuu!
    Amei!
    E concordo em gênero,número e graus centígrados.
    Eu também não sou uma criatura de verão,sou invernal por memória genética.
    Em noites quentes,imagino um banho de champanhe,à basse température.
    Mas o importante mesmo é não perder o gás.
    Bjs.gelados procê.

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  6. Loura, loura! Sabia que você ia curtir, te conheço, Louraça Belzebu!!! ahaha bjos também

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  7. Alec beloved,

    Do I? Well, that's the idea ;)

    You don't need my window to be kept opened, hon. Anyway, whatever you like...

    *he came in through the bedroom window*

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  8. Fiquei muito interessado nessa estória de entrar donjuanescamente pela janela.
    Mas o endereço, que é bom, necas...

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  9. Don Juan descobre tudo, ô pouca prática! Hahaha

    (ti voglio bene, amore mio)

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  10. Só você poderia desribanizar uma camiseta XXL e deixá-la sensual assim...Agora não sei qual é a melhor parte, a janela,a camiseta ou o don juanito...Fantástico San!!!

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  11. A melhor parte? Don Juanito, disparado.

    Cadete do CPOR, sister! Como resistir a um homem que, além de tudo, fez o CPOR? Abre a janela djá, e vai cantando:

    Eia, avante, com alma ungida e pura!
    Em defesa da nossa Pátria amada,
    Na honradez, no civismo e na bravura,
    Afiemos nossa espada!

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