segunda-feira, 10 de maio de 2010

Agua, water, Wasser, eau, acqua

Outro dia revi o show do desbocado e impagável Chris Rock, um dos mais vibrantes comediantes yankees da atualidade, total irreverência e autoescracho misturados a verdadeiro talento cômico num texto quilométrico perfeito.
Uma das melhores partes é quando ele se refere à estúpida capacidade que temos de acabar pagando pelas poucas coisas que ainda poderiam ser gratuitas, por exemplo, a água. Como diz ele, a gente bolou a água engarrafada pra poder pagar por um elemento natural que poderia ser, teoricamente, gratuito. E, lembra, enquanto há gente pelo mundo afora percorrendo quilômetros de chão atrás de água qualquer, nós, altamente sofisticadas criaturas, desprezamos a água tratada que sai da torneira, ao alcance da nossa mão.

- Tap water? Ain't good enough for me. I need bottled water.

A visão distorcida do humor não está muito longe da realidade, porém. Olha só o absurdo a que chegam algumas marcas célebres de água mineral. Quem só ouviu falar em caviar provelmente nunca ouvirá falar nessas águas. Vou mostrar uma só, tem muito mais aqui.


Bling H2O - cogitada inicialmente para grupos seletos de atletas e astros de cinema, chega agora ao alcance de nós, pobres mortais. Foi apresentada nas premiações da MTV e do Emmy.
As fontes minerais ficam no Tennessee mas isso não importa, pois o que interessa não é tanto o que vem dentro da garrafa e sim o que vem por fora dela: cristais Swarovski desenhando a marca. A garrafa é de vidro jateado, traz a informação Água Mineral de Edição Limitada, e é fechada a rolha. Existe a versão sem Swarovski mas, quem quer?
Fardinho com 12 Blings de 750 ml cada, sai por 441 dólas, o que significa, a garrafinha que você vira de uma vez custa uns 70 ral.
Como diria Dona Maria diarista em seus bilhetes, tal quei? Aliás paga uma diária da Dona Maria. Que tal ralar o dia que Deus deu por uma garrafinhazinha de água? Tem cristais...

Bem, é claro, você sempre pode optar pelo carro-pipa. Não esqueça de levar ozbarde, panela, latão.
A rapeize que curtia a dona Carla Peres se agachando na boquinha da garrafa provavelmente ia passar a mão na garrafa e deixar a donzela desgarrafada, caso fosse uma dessas, valendo setentinha. Cabô.

2 comentários:

  1. San, citando o velho Oscar, o Wilde: "A única coisa necessária é o supérfluo."

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  2. Exatamente, Lee. Quantas e quantas vezes enfrentei o dragão da superfluidade com uma espadinha curta e cega!
    Selaví, como diz o Boczon.
    Em todo caso prefiro isso ao neanderthalismo.

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