domingo, 29 de abril de 2012

29 de abril, aniversário da Maezinha


Oi, Maezinha.
Hoje é o teu aniversário.
Sempre choro o dia inteiro, aqui e ali, no dia do teu aniversário.
Nao vou ao cemitério, você sabe. As outras meninas, pelo menos a Si deve ir, sempre vai.
Nao me ligo nisso, acho que nao tem nada a ver.
Talvez eu esteja errada mas, por enquanto penso assim.
Nao gosto de ir lá e pensar em você, na vozinha, na omama.
Prefiro pensar em vocês fora de lá.

E hoje, Maezinha, espero que você esteja especialmente feliz.
Se existe um céu, você deve estar nele.
Como que é aí?
Você encontrou tua família, como vivia dizendo que ia encontrar?
Encontrou pai, irmaos, a Vó Canda, a tia Mariquinha com seus tricôs?
Sempre peço a Deus que você esteja feliz, num lugar bem lindo, junto com o pessoal que você gostava.
É uma ideia meio pilherenta mas, vai que rola.

Tua prima querida, a Be, sempre escreve pra mim no teu aniversário, e eu pra ela no da tia Mariquinha.
Os meninos da Be fizeram uma festona de 70 anos pra ela, lá em Sampa.
Você teria adorado ir, né?
Fizeram num clube bacana, ela toda bonitona, maquiada. Bem mesmo, eu achei.
Eu nao fui. Você sabe, continuo nao indo a nada.
Sou a Capita Caverna de sempre.

Saudades, Maezinha.
Falta que você me faz.
Sabe, a gente cresce, cresce, fica velho, mas é sempre criança na hora de sentir falta da mae.
É tao mais difícil isso aqui sem você, tao mais sozinho.

Nunca vou perdoar o Deus por ter-te levado e deixado o sarna do pai aqui, nunca!
Esse Deus é muito estranho.
Você deve estar ralhando comigo agora: "Não fale assim, guria!"
Você e o seu Deus, sempre unha e carne. Comigo nao é assim, sou muito bocuda.

Hoje, a essa altura, a gente estaria disputando pra ver quem levava você pra almoçar no Veneza, haha.
Sabe que eu nunca mais fui em outro lá de Santa? Só pra fingir que estou levando você.
Quer dizer, fingir nao, acho que você sempre está comigo.

O Polaco Briguento também sente muito a sua falta.
Pudera, o que você mimou ele! Era um absurdo!
Tenho pena dele, deve sofrer tanto quanto eu.
Viu o que ele fez da vida, Mae?
Como era preciso você estar aqui!
Mas a gente é deixado pra se virar, é assim que o Deus faz.

E eu, entao?
Só piso no tomate o tempo todo, né?
Às vezes imagino você falando aquelas coisas pra mim:
"Minha filha, nao seja assim! Ai, filha, como você é..."

Você me irritava tanto com o seu otimismo.
Me irritava com a sua abnegaçao. Eu pensava: a mae nao tem fibra!

Que burra eu, né Mae? Você teve mais fibra que todo mundo que eu conheço.
É que a gente se acha, pensa que sabe tudo.
Nhá, a gente nao sabe é de porcaria nenhuma.
E você, quietinha. Nunca retrucava as críticas, nunca.
Parada ali, vejo tao bem, as maos debaixo do queixo, o pensamento ia longe, nenhuma palavra.
A burrona aqui achando que sabia tanto, que te deixava sem resposta... que burra.

Sinto tanta falta do nosso relacionamento-rosa, Mae.
Tinha pétalas e tinha espinhos.
Eu sempre achei que você nao gostava muito de mim.
Talvez por isso eu tenha ficado assim, dura, julgadora, quase impiedosa.
E talvez por isso eu tenha me tornado obsessiva com meus filhos, achando que tenho que fazer tudo pra eles, 25 horas por dia.
Eu me sentia meio abandonada, meio deixada de lado.
Só depois entendi o que é cuidar de tudo, dar conta de tudo, nao ter um minuto de seu na vida.

Você foi embora muito cedo, Mae. Antes do combinado, como diz o Rolando Boldrin.
Mil vezes eu tivesse ido antes de você.

Uma vez o Eduardo Gusso, que também ficou sem mae antes da hora, me disse:
"Esquecer a gente nao esquece nunca. De vez em quando a dor dá uma acalmada, mas fica ali, o tempo todo, pro resto da vida". E os olhos dele marejaram. Baixei a cabeça, ficamos quietos.
Nossa dor era tao verdadeira que parecia um ente ali, em silêncio, junto de nós.

No dia que ele morreu, tao moço, eu chorei feito louca.
Nao o conhecia quase nada, nao tinha amizade, nao convivia com ele.
Mas ele sentia igual a mim a falta da mae.
Fiquei mais sozinha com a morte dele, um quase estranho. Pode isso?

Meu Filhao vem almoçar aqui, e eu nem comecei o almoço.
Você sabe, ele chega tardíssimo, nao faz mal.

Mae, abraço enorme.
Beijo de cada lado do rosto, afago no cabelo.
Querida, fique bem.
E se puder, dá um alô com o Chefia, por nós aqui.
Ele sempre te ouviu. Você tem trânsito com Ele, danadinha.

Olha eu, estou aqui pra te cumprimentar, mas na verdade estou pedindo colo.
Queria ser a Sandrinha de novo, de franjinha e olhos grandes, vestidinho, sapatinhos de bico virado.
Uma vezinha só, pra poder ficar no teu colinho e esquecer a ruindade que é aqui sem você, Maezinha.
Lembra-se daquele meu vestido com morangos na barra, como era lindinho? A gente adorava ele.

Beijo. Felicidades aí.
San

2 comentários:

  1. Palavras tristes, bonitas, praticamente uma oração, então só posso dizer... AMÉM!

    JOPZ

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  2. Bonito isso, bonito.
    sas.

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