quinta-feira, 3 de maio de 2012

Minha polonesa

Então, tenho cabelos e olhos originalmente castanhos. Mas a pele muito branca, o que me valeu, na infância, o - intermitente - apelido de Polaca. A pele, e o fato de eu ser, provavelmente, filha adotiva, de pai polaco.


Tenho cabelos escorridos, numa família de cabelos ondulados e crespos.
Pela branca, numa família de pele morena, bunda, numa família de desbundados.
Além da esquisitice, que nao combina com ninguém da família.


Pouco se me dá.
Se tem uma coisa que jamais me encanou na vida, é saber de quem sou ou nao sou filha.
Acho assim: a pessoa é o que é, nao importa quem sejam os pais.
Posso ver isso por meus próprios filhos, educados exatamente da mesma maneira, e cada um é um ser diferente do outro, em parte pessoas radicalmente diferentes.


Por isso nao aceito cumprimentos, quando me vem dizer que meus filhos sao ótimas pessoas - e, pasme você, eles sao mesmo - pois nao tenho nada a ver com isso. Ou praticamente nada.


Nao é falsa modéstia, é uma questao de coerência: nao me responsabilizo ou culpo pelo que há de ruim ou menos sedutor neles. Eles sao o que eles sao e nao o que eu quis que eles fossem. Sorte minha que eles sao legais.


A única pressao que eu sempre botei foi: se um dia eu descobrir que você é viciado em alguma droga, eu te mato com as minhas próprias maos, pode ter certeza disso.


Nunca descobri. Ainda nao. Espero estar certa.


Mas esse post nao é sobre meus adoráveis filhos, é sobre mim.


Entao meu apelido foi, esporadicamente, Polaca.


Funny thing, depois de velha (faz tempo isso) descobri que a vodka e eu nos damos muito bem.


Tipo, o que todo junkie esperaria da sua droga de devoçao: ficar legalzao, de boíssima, sem efeitos colaterais muito fódegas.


Pois é.


E agora, pra aqueles que adoram fantasiar com o homossexualismo feminino, digo: havia um comercial de vodka, trocentos anos atrás, nao lembro se da Wyborowa ou da Stolichnaya, em que o cara, com uma voz sensual, louvava os pendores da sua vodka como se ela fosse uma mulher e, ao final dizia:


"Minha polonesa!"


Pois eu digo o mesmo.
Me acerto total com a "minha polonesa". Dá muito jogo.


Ela me deixa calminha, molinha, quentinha, gostosa, feliz. Me faz esquecer as vicissitudes [uia!] da vida, as frustraçoes, as mágoas, as decepçoes, toda e qualquer filhadaputice da vida, e olha que tem!


Em seus braços posso dormir, profunda e suavemente, sem medos nem ansiedade, e acordar bem, leve e fresca, como se o mundo fosse bom e a felicidade até existisse [mundo do Roberto Carlos, antes de ele conhecer o mundo].


Pois é. Minha polonesa


E, depois, tem A Insustentável Leveza do Ser, do Kundera, que me fez pensar muito, naquele tempo. Achei que Sabina - depois interpretada na telona pela ma-ra-vi-lho-sa Lena Olin - era, no mínimo, um desafio ducará. Como diria o purpuríneo Clodovil: será que eu chegava?


Lena Olin, The Unbearable Lightness of Being, 1988



O amigo acharia muito desagradável ter por mulher Juliette Binoche 
e por amante Lena Olin, a mulher participando do "processo"???
Isso nao faz parte essencial do post, é uma curiosidade minha.

2 comentários:

  1. Achei sua opinão sobre filhos muito interessante, não tenho filhos mas acho que teria a mesma atitude que você.
    Quanto à ser polaca, minha total empatia, já que com essa minha aparencia foi difícil fugir dos apelidos de polaca da nhanha e tenho toda admiração pelo povo polones mas até onde eu sei ninguém da minha família veio da Polônia (até aparecer algum antepassado desconhecido)...e acompanhando a sua teoria acho que não mesmo pois não sou muito chegada em vodka...rs

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  2. Interessante, me fez buscar mais informações sobre a vodka... então NA ZDROWIE Nervosa San!

    JOPS

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