quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Mãe, filha, cachorro e a falta de noção

Preâmbulo
Imagino que a minha reclameira sobre gentes e cachorros seja de torrar. A mim me torra, imagine aos outros. Mas enfim, este é um espaço onde eu falo sobre as minhas circunstâncias, nada mais do que isso.
Cada blogueiro o que faz é isso, de diferentes modos, mas nada mais do que isso. O quanto essas coisas possam, ou não, interessar a quem lê, é que são elas.

Assunto propriamente dito
Hoje eram seis da manhã, eu havia dormido desde as quatro. Duas horas de sono. Por conta da famosa dor e dos remédios que me deixam zureta, olhos secos e vidrados, uma coruja.

Eu, de madrugada, desistindo dos canais HD (imagem daqui)

Eram seis da manhã. E eu durmo com tampões de silicone nos ouvidos, senão não durmo. Tenho um sono ultraleve. A partir das cinco da manhã o Centro Cívico se enche dos ruídos de todos os motores do mundo. Fico a-lu-ci-na-da com o barulhão. Nem com tampões de silicone nos ouvidos, meu nego. Nem.

Então, a coisa é essa: elas são mãe, filha e um cachorro. Passadonas, feiosas, mal feitas de tudo. Ambas simpatiquinhas, assim assim. O único macho que se vê na companhia de ambas é o cachorro. Um lhasa-apso, com seu latido de cachorro de brinquedo, estereofônico, insistente feito alarme contra roubo. Coisa horrorosa. Tem nome de homem, o cachorro. Que elas duas chamam sem parar. Fulano isso, Fulano aquilo. Como se lhes desse prazer chamar o nome de um homem, pra variar. Ai.
O homi da casa

Mãe e filha trabalham fora. Não sei direito. Sei que acordam às seis da manhã e, já, antes de saírem de casa, ingressam animadamente numa converseira alta e sem fim. As alegres comadres de Windsor. Pelo volume, parece três da tarde, um bando de mulheres.

O cachorro não trabalha fora. Mas acorda com as duas matracas e inicia o seu ofício de latir aquele latido de brinquedo, chato, estereofônico. Incansável pra ele e pra elas. Coisa horrorosa.

Meu nego, não há eu que aguente.

Como é que as duas criaturas podem acordar às seis da madruga, já engatadas numa falação daquelas? Não faço ideia. Fico remoendo meu ódio, enquanto penso que assuntos podem ter as duas feiosas, pra serem discutidos tão acaloradamente a partir do raiar do dia? Mas nem que elas trabalhassem na NASA. Seis da manhã. Com chuva, em Curita? Equivale a noite, meu nego. Nem que elas trabalhassem pra CIA.

E, enquanto eu vou mirabolando o que pode ser tão interessante que mereça ser discutido na negritude das seis da manhã, com chuva, dá-lhe a powha do lhasa-apso latir aquele latido ridículo e irritante. E elas, a soltar gritinhos de admoestação, chamando o bosta do cachorro pelo nome de homem, pretensamente zangadas com os latidos.

Que patetiquice!

Mas, pra além da minha perplexidade com a falta de respeito aos vizinhos, o que me afoba ainda mais é a total falta de consciência que o povo de hoje tem sobre limites.

O povo perdeu a noção sobre o que sejam limites. Por isso os filhos da mãe andam com o som brega a todo volume, a qualquer hora do dia ou da noite. Por isso os filhos da mãe chegam da balada badernando como se ninguém estivesse dormindo no mundo àquela hora. Por isso as filhas da mãe das gurias, abre aspas "de família" fecha aspas, andam vestidas de piriguetes, e os filhos da mãe dos pais não enxergam a baixaria. Por isso os filhos da mãe que tem cachorro, deixam o filho da mãe do cachorro latir o quanto quer e largar bosta onde quer. Por isso outros filhos da mãe acham direito tocar fogo em mendigo, tocar fogo em índio. Os filhos da mãe perderam qualquer noção de limite.



Outro dia um filho da mãe parou ao meu lado no sinal fechado, com seu carro mais enfeitado que penteadeira de piriguete, ouvindo uma nojeira daquelas, naquele volume. Observei o neanderthal, seu carro brega. No vidro de trás do carro brega havia um adesivo dizendo assim: Jesus é 10.

Jesus é o que agora? Um carinha? Chapa da tigrada? Um vagabundo igual a eles? Parceiro do Marcelo Rossi?

Sabe o que é isso? Falta de noção. O povo hoje não tem a menor noção do que seja nada. Evangélicos, suas cantorias mundanas, seu teatro de milagres, seus bispos e ministros escroques, permitem isso. Católicos, o desaforo dos escândalos sexuais, os ridículos padres artistas, com os quais pretensamente combatem o avanço evangélico, permitem isso.


Mas este é apenas um aspecto do furdunço todo. Apenas um. A cada dia a falta de noção aumenta, se expande, domina.

É o caos, meu nego. É o caos. Não tem tampão de silicone que resolva.


Que trinca, hein? Do balacobaco!

5 comentários:

  1. San, minha querida
    Veja o post que coloquei no Facebook: uma interpretação, digamos, heterodoxa do Night in Tunisia (que o Nêgo Pessoa assegura ser você capaz de solfejar de cabeça). Me diga o que achou, sinceramente...
    Beijos
    Rick's (apareeeeçaaam)

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  2. Afffff mãe, só faltou + 1 na última foto pra completar os 4 cavaleiros do apocalipse.

    JOPZ

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  3. Rick's dear,
    fui, não vi e me senti vencida pelo fez-se book =(
    Onde que tá?

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  4. Jopz,
    a gente podia lançar uma bagaça tipo: quem vc acha que devia meter as caras aqui junto com essa renca?

    Por ex, quem vc sugere?

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  5. Óia San, e eu que pensava que tava ficando véio...mas tou vendo que não é veiêra não. É que a gente manteve o bom senso, só isso.
    E olha que a gente viveu os anos 70, onde "tudo era permitido" era "proibido proibir" e etc, então fomos criados num ambiente de uma certa tolerancia, maior que aquela que nossos pais e avós tiveram. Mas voce me confortou com seu texto,afinal não sou só eu que fico puto com as coisas que vejo.
    Que época de merda. Mas, como mudar isso? Ditadura? Educação? Paulada e cacete? Mudar pra um sítio e se isolar de tudo? Sabe Deus!!!

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