Durmo com a janela aberta, a dois passos da cama. Gosto de sentir o sereno da madrugada a entrar silenciosamente, don juanescamente, em meu quarto, enquanto eu sonho.
Porque assim, lá pelas duas eu estou sob o chuveiro, shampooing, como é de praxe. E ali eu me demoro o suficiente pra sair mole, quase cambaleante, direto para os braços de Morpheu (o meu é com ph porque o assunto está relacionado a pele e então...well).
E o que acontece? Chegando à cama deito-me, espalho-me sobre ela seria o mais certo, o corpo ainda fumegando do interminável banho, mas -ah- cabelos perfumados são um must. E então tem esse calor todo para ser dissipado. Nem me cobrir posso. O que faço? Entrego-me a Morpheu usando apenas uma tee completamente puída. Enorme, larga, completamente puída camiseta, à qual eu desavergonhadamente acrescentei requintes de raggy look, tais como passar a tesoura em todas as ribanas para assim me fazer free demais, no strings attached at all. Um nada sobre a pele, é isso o que eu quero, uma camisa que se desmanche a um sopro.
Abandono pela cama a parte de baixo do pijama, e a parte de cima, e um par de meias fofas sem cano, que lembram sapatinhos de bebê. Jogo tudo por lá, sem ver direito onde, mas sei que vou precisar de cada item logo mais. E a janela aberta a dois passos da cama.
Lá pelas tantas o insidioso frio curitibano mete pela janela aberta sua longa e gelada língua, que começa devagarinho a me lamber a pele quente. Ui! Gentle goosebumps all over my skin, under which I have got you.
E aquele chill vai percorrendo a topografia, brincando comigo, tentando me despertar, vamos lá, sua preguiçosa, ele me sussurra ao ouvido com seu hálito fresco, vou continuar te arrepiando, diz ele.
Sorrindo eu começo então a passar a mãos por toda a superfície ao redor de mim, tateando molemente atrás das calças do meu jammie, depois a parte de cima dele, que vou vestindo sem abrir os olhos, num ritual desapressado, e por último os sapatinhos de bebê que eu calço de qualquer jeito, só pra mostrar ao frio que eu não tenho medo de sua língua gelada. Venha agora, digo a ele. E ele vem mesmo. E eu gosto.
Espalhada na cama, um braço esticado e outro sob o travesseiro, uma perna esticada e outra fletida, me imagino a representação egípcia de uma bailarina voltando de um grand jetté. E ali sonho, apenas sonho, que minha figura é encantadora e que minhas pobres pernocas são as maravilhosas pernas de Cyd Charisse, a rainha, que me desculpe a linda Ana Rickmann. Vou confessar que sempre me fingi de linda, fingi muito. Como alguém me disse outro dia, com a voz mais sensualmente arrastada desse mundo: you're a pretender. Yes, I am, sir. Shame on me.
E a janela aberta a dois passos da cama. Agora já posso puxar as cobertas, devo, se quiser reguardar o que restou da fumegância, uma tênue camada envolvendo-me o corpo feito um anel de Saturno. Com o passar do tempo, enquanto o inaudível tic-tac do relógio eletrônico bate em compasso com o meu coração, o frio de Kooreetcheebah me possui inteira, tão bom, eu deixo.
Sou, conforme disse a alguém horas atrás, uma criatura outonal, crepuscular, meio dracúlea, meio lunar. Não sou dada ao calor dos trópicos e seus suores incômodos. Prefiro o adocicado suor despertado antes pelo prazer do que pelo sofrimento físico.
Gosto de pensar em meu corpo como um blanc des blancs, à boire frais. Ou, no encantador idioma de Shakespeare, serve cool. Ou quando muito um delicado rouge léger, à boire chambré. Chambré é bom.
Ah, mas eu sou é muito enjoadinha com essas minhas trips, não sou? Admito, admito. Não sei como vocês tem paciência (eu ia dizer outra coisa, mas não seria elegante) para me ler...
Alec, please hon, olha lá o que vai dizer. Curb your enthusiasm haha
ResponderExcluirMuito erótica-sensual tua "night trip".
ResponderExcluirVai causar furor aí no fãclube.
Bj
Wow! Ham-ham! What can I say?
ResponderExcluirLove is a many splendored thing?
Kisses from my high and windy hill?
Keep your window opened every night?
For God's shakespeare?
Alec (saying Jesus Christ, San, you drive me nuts, hon)
Doc,
ResponderExcluirimagine, a gente só faz pilhérias por aqui hahah
Uauuu!
ResponderExcluirAmei!
E concordo em gênero,número e graus centígrados.
Eu também não sou uma criatura de verão,sou invernal por memória genética.
Em noites quentes,imagino um banho de champanhe,à basse température.
Mas o importante mesmo é não perder o gás.
Bjs.gelados procê.
Loura, loura! Sabia que você ia curtir, te conheço, Louraça Belzebu!!! ahaha bjos também
ResponderExcluirAlec beloved,
ResponderExcluirDo I? Well, that's the idea ;)
You don't need my window to be kept opened, hon. Anyway, whatever you like...
*he came in through the bedroom window*
Fiquei muito interessado nessa estória de entrar donjuanescamente pela janela.
ResponderExcluirMas o endereço, que é bom, necas...
Don Juan descobre tudo, ô pouca prática! Hahaha
ResponderExcluir(ti voglio bene, amore mio)
Só você poderia desribanizar uma camiseta XXL e deixá-la sensual assim...Agora não sei qual é a melhor parte, a janela,a camiseta ou o don juanito...Fantástico San!!!
ResponderExcluirA melhor parte? Don Juanito, disparado.
ResponderExcluirCadete do CPOR, sister! Como resistir a um homem que, além de tudo, fez o CPOR? Abre a janela djá, e vai cantando:
Eia, avante, com alma ungida e pura!
Em defesa da nossa Pátria amada,
Na honradez, no civismo e na bravura,
Afiemos nossa espada!