terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

J. D. Salinger, adorável esquisitão


Pode googlar até fazer bico, o máximo que você vai encontrar são dois retratos de J. D. Salinger, um tirado lá pelos 33 e outro lá pelos 80 anos. O homem era um recluso, não botava a cara na mídia, foi uma única vez tirar um retrato, em 1952 ano da graça, cujo sigilo o fotógrafo só ousou quebrar 30 anos depois. E lambam os dedos imaginando como ele ficaria ano após ano.
Já no final da vida Salinger processa um fulano que escreveu uma 'sequência' do Catcher, usando em vão o santo nome de Holden Caulfield. A piada é que se Salinger fosse obrigado a comparecer no tribunal, ele viria com um saco de papel pardo enfiado na cabeça, feito o Thomas Pynchon dos Simpsons.

Aos 91 anos Salinger passou desta para a melhor, no 27 de janeiro. Dizia ele que, em morrendo, alguém com bom senso atirasse seu corpo num rio, qualquer coisa assim, menos cemitério. Que o pessoal ir domingo pro cemitério largar flores em cima de um morto, é coisa sem noção. Quando está morto, quem quer flores? Ninguém, segundo ele.

Também disse, entre muitas outras coisas, essas duas joinhas:
  • De cada dez pessoas que choram quando assistem um filme, nove são umas rematadas cretinas.
  • Estou farto de gostar de pessoas. Deus me permita conhecer alguém a quem eu possa respeitar.
Mas o que eu mais curto é ele tachar tudumundo de phony. É isso mesmo. Todos somos falsos, fingidos, superficiais, artificiais e tudo o mais que a palavrinha comporte. Uns mais ainda do que outros. Melhor, a grande maioria mais do que os outros.

O Salinger me lembra o Nelson Rodrigues com aquela sacada da precariedade humana, aquela angústia subjacente em todas as personalidades, a vulnerabilidade do ser humano diante da culpa, da dúvida, do
arrependimento. Nesse sentido Pretty Mouth and Green my Eyes [aqui em delicioso espanhol] acho uma porretada.

Enfim, o homem passou pro andar de cima e a vida continua. Mas ainda temos o Pauno Cuelho, olha que sorte. Por falar em phony.

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