Quando sente que o bicho tá pegando aqui entre a calhorda que Ele criou, o Senhor manda-lhe um dilúvio, um terremoto, uma tsunami, uma erupção vulcânica, uma dupla breganeja, qualquer desgraça maldita que perturbe pra valer. Aí -e só então- a cambada pensa em baixar a bola. Ou não.
Digo isso pensando nas enchentes que assolam o país do Oiapoque ao Chuí. Você vê no telejornal as hordas de desalojados e fica imaginando o que será da vida dessa gente que já não tinha eira e pegou enchente na beira de todos os corguinhos, riachos e ribeirões de Pindorama, e hoje se apinha com mais trocentos iguais, nas arquibancadas de ginásios de escola.
Você imerge nesses pensamentos com um pouco de culpa por 'estar numa outra', esperando pela parte que te toca, pois crê que todos terão a sua cota de calamidade [o homo democraticus se amarra em cotas, quanto mais democrático ele se entende, mais cotas defende] até que o telefone toca, chamando-o de volta à realidade [sua]:
- Mãe, já estou voltando pra casa. Precisa de alguma coisa?
- Já? Como já? O que aconteceu? Não vai nadar hoje, filho?
- Mãe, sabe aquela chuvarada de ontem? Você acredita se eu te contar que o clube está interditado?
- Quê? Como assim, interditado?
- Pois é. Colocaram até uns cones nos portões pra ninguém entrar com o carro. A chuva derrubou uns muros, quebrou uma porção de árvores, transbordou as piscinas, emporcalhou o campo de golfe, as quadras de tênis, os vestiários, tudo, tudo!
- Nossa, filho! Não diga!
E com a voz entrecortada de pesar, seu filho desliga, dizendo:
- O pessoal não sabe se amanhã o clube já vai poder abrir, mas eu acho que não. Acho que vai levar pelo menos uma semana pra arrumar tudo de volta. Você precisa ver que calamidade! A água das piscinas amarelona, imunda... Uma tristeza, não dá pra acreditar! Tô indo pra casa. Tchau, mãe.
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