domingo, 18 de abril de 2010

Miragem (e isso é tudo o que vocês terão de mim até segunda-feira à tarde, até lá estarei ocupadíssima)

Foto Alistair Magnaldo, superb  http://www.almagnus.com/

Ó, o amor. Ó o desejo de se ficar linda para o seu amor. Ó o amor pelo proibido, quase tão inelutável quanto o amor pelo seu Amor.

Por você, meu Amor, renunciei aos meus amados da vida inteira, os fritos, assim chamados além-mar, e eu acho bem mais bonitinho que "frituras".

Por você, meu Amor, renunciei ao meu amado da vida inteira, meu Francês, meu francesinho, branco, quentinho, fumegante, com manteiga, manteiga derretida (até parece você, Amor), escorrendo pelos cantos da boca ávida do meu tíbio colesterol.

Por você, meu Amor, renunciei a 99% do prazer que me dava o meu negro gostoso, amado da vida inteira, o chocolate.

E assim vim vindo, de estação em estação, analisando com lágrimas nos olhos da gula o que me deixaria mais gorduchinha, e fazendo os necessários cruéis cortes. Embora você me venha com aquele papo mosca de "não precisa mudar nada, deixe tudo como está, eu gosto assim, eu quero tudo assim". Mas, apanhei-te, cavaquinho! Você não quer é enfrentar uma verdadeira beldade que te faça a consciência pesar diante do espelho e te arranque suspiros tristonhos ao considerar uma academia de fitness uma hora por dia, três dias por semana.

Tudo bem, não esquente, Amor. Eu não exigiria isso de você, sério. Seu espírito lindo, melhor que a pilha de músculos de Schwarznegger em Conan, o Bárbaro, melhor que o Bruce Willis em Die Hard 4, melhor que o Van Dame em Soldado Universal (pelado com aquela bundinha dura que levava a moçada à loucura), seu espírito maravilhoso, e outras tantas atribuições bem menos metafísicas que são um sucesso total, ululante, inimitável, cobrem quaisquer improváveis failures que possam porventura turvar a sua a autoconfiança (coisa que, cá entre nós, é uma tarefa pra lá de hercúlea). Por outras palavras, Amor, não precisa mudar nada, deixe tudo como está, eu gosto assim, eu quero tudo assim . Só não me acuse de plágio.

Mas apesar de tudo isso, desse mar de amor e espiritualidade, devo confessar que uma paixão da vida inteira ainda assombra minha saudade e tira o meu sossego. Essa paixão é duplamente malévola e maligna, pois junta duas fontes profícuas de radicais livres, aquelas coisinhas que você pode sentir se passar a mão atentamente naquela região em que minha coxa começa a se transformar em nádega (o que me salva é que  naquela altura você já não tem mais o domínio total da sua consciência, eu sei, ainda bem).

Então, essa paixão duplamente má que me assombra (uma delas, na verdade tenho duas, mas da outra não falo agora), que me faz olhar uma foto onírica e embarcar no sonho errado, é a mesma que me faz ver essa surreal meia-lua mergulhada poeticamente nesse lago, e imaginar que sou eu no barco, que venho extasiada, cheia de dedos e cheia de desejo, a me aproximar finalmente de um enorme e crocante pastel de queijo.

(Da outra paixão falo outra hora, que é para você não se assustar com o exército de radicais livres, pois sei que você ama a liberdade mas é contra o radicalismo, Amor. Mas já vou avisando que ela reside na Áustria, para onde você já se encontra intimado a me levar um dia. Prometo, salivando, que vai ser wunderbar.)

4 comentários:

  1. O, San, essa foi boa. Também curto um pastelzinho de queijo, kkk

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  2. Pois é. Dureza é conciliar todas as reivindicações sensuais, ô... haha

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  3. No mês de abril, vejo a meia-lua cruzando o céu da cidade como se fosse um barco feito de papel. Aquele que Rimbaud fez flutuar em uma poça, água perdida, única água que ele desejava ver em toda a Europa. Essa imagem me faz lembrar de uma canção minha que lembra Rimbaud, que lembra da meia-lua e de um barco a flutuar entre as estrelas.

    Beba o velho barco bêbado de violinos
    Até que naufrague
    Afunde na cabeça
    E te enlouqueça
    Beba o céu de abril
    Beba o céu de abril

    Meu cavalo encilhado embranqueceu a noite
    Morto de cansado
    Perseguiu estrelas doidas borboletas
    E depois dormiu
    Na cama em que se acaba o mundo
    Termina o caminhar do giz
    Se sonha um sonho de menino
    Se morre morto de feliz

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  4. Vai virar novo post esse comment, Paulo Vi. Como poderia eu deixar essa lindura por aqui?
    Nossa, você brinca. Olha isso!

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