sábado, 11 de dezembro de 2010

Fantasiar com padre é pecado?

No blog d'além-mar A Vida de Saltos Altos, dou de cara com este tema, que sempre causou-me bastantes sobressaltos, como diriam os portugas.

Desde mui pequena fui fascinada pelos padres. Que no meu tempo ou não eram nem pedófilos nem pederastas, ou não se desconfiava de nada.

Vivia eu uma vidinha de quase clausura, andando pelo mundo apenas de casa ao colégio e do colégio à casa. E nesse trajeto sequer olhava para os lados, nem as vitrinas eu namorava. Isto por dois sérios motivos: o primeiro era ter em casa, me aguardando com uma chibata moral, um pai xiita. O segundo era ser eu uma pequena intelectual, cujo prazer maior estava na imaginação, na provocação das palavras, no pensamento que se esgueirava lúbrico e lúdico pelas esquinas das estantes, na silenciosa penumbra das bibliotecas, sob o pesado cheiro dos livros, atenta ao surdo clamor das palavras que me seduziam. Essa era a minha luxúria. E quem diz que não continua sendo, a par de outras mais novas, talvez?

No colégio, ao lado das lições de praxe, eu vivia com o mesmo fervor a disciplina rígida das freiras francesas, mal saídas de seus hábitos tradicionais, de extravagância dura e medieval, para a planura monótona e iconoclástica dos confortáveis e discretos hábitos modernos. Grande perda em simbolismo e impressão!

 Assim, como a da japinha, e com a mesma inocência na cara, 
a San usava a blusa de marinheiro, uniforme do colégio, 
mais a sainha pregueada, boina, luvas, sapatinhos de boneca.
Resistir a tanta fofura, que padre havia de?

Mesmo assim, eu reverenciava naquelas mulheres a absurda negação da vida secular, e me perguntava escondidamente que poderes as mantinham no celibatário claustro, tão desvinculadas da natureza familiar e maternal da mulher. Esses desconhecidos poderes se pegavam à minha cisma feito carrapichos.

Assim, imersa nessa bouillabaisse de moralismo e modéstia, minha pequena alma desafiadora evaporava em busca de aventuras imaginárias, quase sempre mais compensadoras, ousadas e engenhosas do que as reais.

Nessas viagens, causava-me grande rebuliço mental a imagem rápida e fugidia do homem santo, que atravessava com sua perturbadora batina, longa e negra, a nave central, grave e distante, rumo a não sabia eu que compromissos insuplantáveis, com a estarrecedora fé cristã, com a dogmática performance dos sacramentos, com seus mistérios metafísicos que, somados aos mistérios físicos, me deixavam a alminha boquiaberta.

Sim, sonhava eu com o padre em sua batina preta. E o que me encantava era medir a aridez do seu desejo,  a férrea vontade, que ele se impunha, de anular sua natureza máscula, para se tornar o incorpóreo instrumento do Espírito Santo, seu desiderato maior.

Sonhava eu em derrotar tudo isso no padre, e fazê-lo pedir perdão e demissão a Deus Nosso Senhor, para então voltar-se para mim, e implorar por meu amor de menina pura e nova, fria na crosta, vulcão dormente.

Era esse o meu sonho. Não com o homem no padre e, sim, com o santo dentro dele. Santo com que a irrefreável paixão que eu despertava, ia se defrontar. Eu, pobre menina insofisticada e ingênua, versus Deus Onipotente e os portentosos cânones do Vaticano, sua pompa e circunstância. Meu fascínio era vencer essa magna peleja na alma do padre.

Posso lhes garantir, grande tesão uma tal batalha, se você aposta em si mesmo, como eu, no colapso da razão, fazia.

Bons aqueles tempos. Como, apesar de toda a munição de que dispunha, eu pecava pela falta de iniciativa e medo do Inferno, acabou que jamais desencaminhei um homem santo, suprema frustração da minha vida. Que, ordinários e jaguaras, desencaminhei alguns!

Como comichão residual curti por um longo tempo, então já moça feita e noiva, o Father Ralph, personagem criado por Colleen Mc Cullogh em Pássaros Feridos. Encarnei a Maggie, namorada do padre, com toda a vontade de me compensar, até que  Richard Chamberlain, o encantador Padre Ralph, saiu do armário, oh my! e assumiu o namorado. A vida com moela é.




Hipertexto:
O título deste post é de autoria da blogueira d'além-mar,
que assina o post correspondente
(e não este meu, que você acabou de ler).
Ei-la, ao lado. E o seu nome. Cosme. Com S.

2 comentários:

  1. òtimo texto. ainda bem que vc era apenas uma garotinha jovem e inexperiente, imagine só agora muito + experiente se fosse acometida por essa "tara" esqueçeria os padrecos e pularia direto para 1 cardeal nos braços do SANTO PAPA... e falando em papa depois veja esse videozinho sobre o cara do chapeu engraçado...

    E eu indico sem o menor peso na consciencia, já fui excomungado faz tempo...

    http://km114.blogspot.com/2010/12/musica-do-papa.html

    JOPZ

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  2. Haha,
    não é bem assim, Djoupz!
    Não se trata de tara, de pular nos braços de ninguém.

    Tratava-se de uma ambição, antes de mais nada, de vencer a força maior, que atraía o homem ao celibato, ao total desprendimento dos apelos seculares.

    A coisa era muito mais aristotélico-tomista do que possa imaginar assim numa primeira olhada, meu nêgo. Não era pouca porcaria, não.

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