terça-feira, 17 de abril de 2012

Poemeu [homenagem póstuma e irrisória ao grandíssimo Millôr] poemeleca

Nao correm
as horas do meu dia.
Escorrem, lentas,
horas vermes, frias,
melequentas.

Pelas vidraças da janela,
pelas paredes da saleta,
sobre as frutas encolhidas,
murchas, capengas, sem vida,
numa vasilha de lata
esquecida.

Deixam rastros, as horas répteis,
passam moles sobre o pó, lesmas horas.
Sobem pelos umbrais,
colam-se nos caixilhos,
enroscam-se em aldravas
grudam-se às lombadas
dos meus livros
desmilinguidos,
horas ressecadas, velhas horas repetidas.

Horas insetos, asas decíduas, nao podem voar.

E eu, sem cadeira de balanço
pra me embalar, 
mal acomodada olho as horas 
em lenta procissao a caminho do nada,
bocejando lágrimas vazias,
cheias de tédio milenar.

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