Mañana

Amanhã, por volta destas horas, o Dr. Mohty Domit Fº e seus Miquinhos Amestrados estarão escarafunchando Fritz, meu joelho esquerdo.

Embora a artroscopia seja considerada um procedimento corriqueiro, eu penso que: corriqueiro no joelho dos outros é refresco, portanto, pode ser que corra tudo bem, pode ser que eu vá dar um abraço em Jizuiz - ou no Capeta - e não volte a vê-los. Imagine a alegria dos meus detratores (e dos meus semtratores também).

In case I die, deixo as seguintes recomendações - públicas - para que o Churrasqueiro Derradeiro não implique com ninguém:

 Imagem: Don't fear the Reaper

1. Quero ser cremada!
Não é preciso velório mas, em havendo, que estejam presentes apenas minhas duas irmãs e meu filho aborrescente. Mas deixo avisado que não faço questão, não voltarei pra assombrar ninguém, caso não me velem antes do churrasco.

Peço que, em comparecendo, meus pranteadores não me pranteiem, pois é sabido - de cor e salteado - que eu odeio o mundo, detesto as pessoas e não dou importância à vida. O que faz da morte uma coisa, para mim, aprazível.

Peço, outrossim (só no memento mori pra usar essa palavra), que não me levem flores. Ao invés, umas cabeças de alface bem fresquinhas, pois o melhor acompanhamento para churrasco é salada e farofa e, sendo que ninguém com nó na garganta - como imagino que estarão, dado o funesto da coisa - consegue  farofar, que se providencie somente a salada. Ah, sim, e cerveja. Brahma Chopp, pra minha irmã mais nova e Malzbier, pra menos nova, se assim o quiserem. E Coca light pro meu aborrescente.

2. Quero que minhas cinzas sejam jogadas ao léu!
Nada de me jogar no mar, no ar a dez mil pés, no Himalaia, no Rio Belém, ou pagar 15 mil ral pro Churrasqueiro me mandar pra Lua, olha se pode, qual é o néscio que acredita nisso? Tem gente pra tudo, hein? Mas nem na hora da minha morte, na hora do churrasquinho de San, esse povo deixa de me irritar com tanta parvice.

Para me agradar postumamente, que espalhassem minha cinzas num jardim qualquer. Para me agradar  sumamente, que as espalhassem nos Jardins de Monet. Ai, como meu espírito se regozijaria! Pela primeira vez meu espírito se regozijaria e eu usaria esta palavra sem desconforto.

Além do que, minhas cinzas repousariam a léguas, milhas, quilômetros de distância desta terra garanhunzenta. E eu poderia dizer, superando o desprezo de Carlota Joaquina: nesta terra não deixo nem meu pó! 

Momento de êxtase! Acabo de descobrir que a morte pode ser ainda mais atraente.

3. Quero que meu filho aborrescente seja olhado por aquele que foi o maior dos meus amigos!
Ele sabe quem é. Passo-lhe a guarda espiritual de meu filho, e confio integralmente que não poderia estar em melhores mãos. Obrigada. Que o Senhor o recompense com mo' better blues, os da sua escolha. Sucesso sempre, e continue nas jaguarices da vida, com bastante alegria.

4. Quero que em minha memória, se algum destrambelhado quiser homenagear,
seja pendurado, no lugar destinado, uma photô do Johnny Depp, recortada de alguma revista de fofocas ou catada na internet, com a frase: Johnnyzinho tu é um gostoso! E que uma vez por mês ali se ouça jazz e se leia parágrafo qualquer de um clássico da Literatura.

Sem mais para o memento, agradeço a atenção dispensada, desejo a todos - à exceção dos meus detratores, que eu quero que se fodam solene, completa e irremediavelmente - uma vida feliz, divertida, honesta e decente. Que de nojeira eu estou farta.

In case I don't die, vemo-nos em alguns dias. Valeu, gurizada! Bjuxxx da San. De vocês eu gosto.

Imagem: Então vamos, amiga!